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Maringá,03/09/2025

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Perdoar: o Presente que você dá a si mesmo

Arthur Guerra
Perdoar: o Presente que você dá a si mesmo Reprodução

Abrir mão do ressentimento não muda o que aconteceu, mas pode transformar como você vive com isso

É bem provável que, neste exato instante, você já tenha se sentido injustiçado por alguém.
Por um familiar, um colega ou chefe no trabalho e até por um amigo.
Quantas vezes você não guardou por anos mágoa ou raiva não só da situação vivida, mas, mais importante, da pessoa que a causou?
Você já parou para pensar no impacto que sentimentos como esses podem causar no longo prazo?
Cito um dos mais importantes: o ressentimento.
A própria palavra já nos diz do que se trata: ‘re’ é reviver, fazer de novo. É como se o sentimento ficasse ali e tomasse conta da vida, tornando impossível esquecer o que vivemos. Pense no quanto isso pode atrapalhar sua paz e sua saúde mental.
A raiva crônica é igualmente destrutiva, mantendo você em um estado constante de ‘luta ou fuga’.
E isso tem consequências para a saúde: além de causar alterações na frequência cardíaca, nos coloca em permanente estresse, aumenta o risco de depressão e até de enfraquecimento do sistema de defesa do corpo.
Mas há uma boa notícia: estudos mostram que o perdão pode aliviar esse peso, tanto físico quanto psicológico. É claro que perdoar não é fácil; exige empenho, uma boa dose de reflexão e elaboração. Por que é tão difícil isso? Penso que um dos motivos é que muitas pessoas buscam a reparação da forma mais antiga que há: olho por olho, dente por dente.
Perdoar não significa dar um ‘ok’ para quem feriu você, nem diminuir o que você passou.
E muito menos significa se reconciliar com a pessoa que lhe machucou (embora isso possa acontecer, claro). É abrir mão de revidar na mesma moeda, libertando-se da raiva para que ela não acompanhe você pela vida afora.
Mesmo que essa decisão seja sobre quem lhe feriu, no fim das contas, quem ganha é você.
Quando você consegue se livrar do ressentimento que está aí guardado, é como se uma parte sua se curasse. Não é por acaso que o perdão é um dos princípios básicos de inúmeras religiões.
Não é por acaso também que perdoar faz um bem enorme à nossa saúde mental e física: a pressão arterial abaixa, e o estresse, a ansiedade e a raiva diminuem, como mostram estudos. Além disso, o perdão pode abrir a possibilidade para quem foi ferido de se reconciliar (até consigo mesmo, quando somos nós os que não perdoamos a nós mesmos) e de melhorar as suas relações pessoais; para o ofensor, há a chance de repensar e não repetir o erro.
Uma pesquisa recente de 2023 sugere algo ainda mais profundo: o perdão pode ajudar quem foi machucado a encontrar um novo sentido para a sua dor.
Onde havia desespero, surge a esperança, a possibilidade de transformar um fato trágico ou dolorido em algo novo. Vemos frequentemente exemplos disso em nosso dia a dia: mães que, mesmo após perderem seus filhos para a violência, conseguem transformar sua dor e raiva em força para ajudar outras pessoas, criando ONGs ou projetos sociais.
Perdoar é um ato de coragem e amor-próprio.
Não se trata de apagar o passado, até porque ele não pode ser apagado, mas de não deixar que ele continue a ditar o seu futuro.

*Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.




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