Walber Guimarães Junior
O Brasil sem Bolsonaro.

Estamos a poucos dias do julgamento de Jair Bolsonaro que deve, como todos admitem, devem consolidar a sua condenação com pena superior a trinta anos.
Mas ainda que a punição de um ex-presidente, é alijar o já inelegível líder do processo eleitoral, de maneira irreversível, tornando ainda mais imprevisíveis as eleições presidenciais em 2026.
A crise do tarifaço comercial implementada por Trump já produziu alterações sensíveis no quadro eleitoral, oferecendo uma reação improvável do presidente Lula, que estava quase nocauteado e ganha sobrevida porque a crise mudou a pauta do debate político, jogando na prateleira o escândalo do INSS ou o déficit fiscal, que constrangiam o governo, e lhe concedeu uma convincente bandeira eleitoral; a defesa da soberania nacional.
Uma leitura dos novos números das amostragens eleitorais, permite algumas conclusões surpreendentes; Lula consegue estancar a queda de popularidade, e até inverter a tendência, e mostra números ascendentes de preferência, em movimentos contrários ao ex-presidente que perde popularidade e vê sua rejeição subir. Isto aponta para uma inversão do favoritismo da direita?
Talvez não porque muito provavelmente Lula surfa em uma marola que não o leva até a praia.
Sinceramente, os elementos disponíveis não permitem qualquer conclusão desta ordem, mas acendem o sinal de alerta na direita que precisa se reprogramar, tentar uma improvável unidade, administrar uma fogueira de egos e ainda conciliar com as exigências da família Bolsonaro que pode, inclusive, ter dificuldades para construir uma convergência em torno de um único nome.
Se a esquerda tem Lula e só ele como alternativa eleitoral e já define estratégias para o pleito, apostando na divisão entre os adversários e números consistentes no primeiro turno para construir alianças mais ao centro, a direita tem muito mais obstáculos pelo caminho.
O governador Tarcísio de Freitas é a grande incógnita da disputa.
Favorito para a reeleição, com uma ampla aliança partidária de resolver olhar para Brasília, parece que só troca o certo pelo duvidoso com aval de Jair Bolsonaro, ciente que isto implica em ceder a vice para alguém da família e assumir como prioridade de seu projeto uma ampla anistia que inclua o seu padrinho.
A questão é que nem mesmo a provável prisão do ex-presidente parece criar um quadro de unidade, inclusive porque se filho Eduardo tem seu próprio projeto.
Eduardo Bolsonaro precisará enfrentar restrições jurídicas e políticas para permitir um retorno isento ao Brasil, algo cada vez mais improvável, mas continua em franca oposição à Tarcísio, sonhando ser ele o nome de unidade da direita, algo que, mesmo com um bom grupo de parlamentares aliados, ainda não comoveu seu pai. Neste momento, parece também improvável que o PL seja capaz de abrigar Jair, Michele e seus filhos no mesmo projeto, tornando bastante possível que o campo da direita apresente três, talvez quatro opções nas urnas de 2026.
O mineiro Romeu Zema tem legenda e disposição para a disputa eleitoral, já lançado pelo Novo, embora ainda me pareça muito mais focado em arrumar um bom convite para ser vice na chapa de Tarcísio ou Michele. Também não desponta como um bom produto eleitoral porque está longe de obter a adesão maciça de seus conterrâneos.
Ratinho Junior estimulado pela sinalização positiva de Gilberto Kassab, presidente do PSD, surge como nome mais adequado para construir uma aliança partidária, na ausência de Tarcísio, e tem tamanho para encarar a disputa, sustentado pelos ótimos números do Paraná, pela fluidez de seu nome e, fora da cena polarizada, parece o nome com maior potencial eleitoral.
Em relação ao governador goiano Ronaldo Caiado, pressionado pela idade que não lhe permite adiar o sonho presidencial, depende da sua legenda optar pela negociação mais confortável no segundo turno ou a prioridade para carona como vice na chapa dos republicanos ou do PL, embalado pelo peso eleitoral da federação União Progressista.
O quadro não acena para novos players, embora a divisão e falta de favoritismo para a segunda vaga possa estimular alguns outsiders, frisando que, para muitos, individualmente ou em termos partidários, apostar na visibilidade da disputa principal seja uma ótima alavanca para a bancada no Congresso, meta prioritária das siglas médias e pequenas.
O calendário eleitoral aponta para o fim da primeira quinzena de setembro para um balanço da condenação de Bolsonaro, com leitura mais precisa do impacto no eleitor e para o início de outubro como data limite para filiações partidárias.
Depois disto, uma previsível aceleração dos acertos de bastidores, com pelo menos uma dúzia de siglas que podem se movimentar no tabuleiro político, algumas importantes como MDB e PSDB.
Estamos ainda muito longe de qualquer prognóstico seguro para 2026, mas dois fatores parecem mais decisivos; o real tamanho do estrago do tarifaço americano na nossa economia e o grau de fracionamento da direita pós Bolsonaro.
A projeção mais realista aponta para Lula, na faixa de 35%, esperando o adversário para o segundo turno, o mais votado da direita, sendo Tarcísio o favorito, porque pode até ultrapassar o número petista já na primeira etapa, e muita indefinição com a opção pela reeleição do governador de São Paulo.
São apenas estas variáveis? Difícil imaginar que o Tio Sam de topete laranja não tenha mais artilharia pesada para garantir seus objetivos econômicos que sempre promovem estragos também na política.
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