Walber Guimarães Junior
Política e economia para explicar o tarifaço de Trump.

É senso comum que Donald Trump é tão imprevisível que nem mesmo ele consegue se traduzir com segurança, como demonstrado no primeiro semestre comandando os EUA com idas e vindas constantes, muitas vezes mudando de direção ou sentido, enlouquecendo todos aqueles que precisam entender o presidente americano.
Ainda assim, vamos tentar entender as razões econômicas, em breve análise, sem desconhecer que fatores de outra ordem, políticos em especial, contribuem para seu processo de decisão.
Vamos começar pelos macros fatores.
É importante perceber que, após mais de sete décadas de domínio absoluto, a supremacia americana, tanta liderança política como econômica se encontra sob risco, pela persistente queda de consistência de sua economia e pela leitura de seus antecedentes, Biden e Obama em especial, que o conceito de Aldeia Global era prioridade, gerando situações em que os EUA foram prejudicados, por pagar a conta e não obter bônus, na tradução de Trump.
Agora, sob comando dos republicanos, a regra mudou, com as variáveis internas sendo as únicas realmente relevantes porque agora os americanos não gastam um centavo que não signifique retorno e, acima de tudo, Donald Trump quer os EUA reconhecido como nação líder do planeta, referência política e econômica para todos eliminando qualquer possibilidade de ataque a este projeto.
O atual panorama político-econômico mundial aponta a China no calcanhar americano, disputando cada centímetro de influência sobre as demais nações, muito mais focada na cena econômica, mas, na leitura americana, sempre com interesses secundários na vertente política.
É notório também que em muitos momentos, a China usa um mecanismo recente que o associa a outras nações e permite que a “vitrine” seja dividida, por isso os Brics também viraram alvo dos americanos e é incontentável a importância do Brasil neste projeto.
Muito mais que criar um caminho alternativo para o comércio multilateral, os Brics ameaçam pilares básicos da economia americana, como a moeda tomada como referência universal e todo o planeta ouve a pregação e Lula e seus parceiros afirmando que não é razoável que as operações entre os países persistam com a exigência de manter o dólar como moeda referencial. Podem até ser ter boas razões, mas certamente que incomodam a segurança e a supremacia americana no mundo econômico.
Resumindo, os Brics e a ameaça ao dólar justificam as restrições de Trump ao Brasil na leitura macroeconômica, além de contaminar a liderança absoluta dos americanos sob as Américas, em especial ao Sul, porém, em relação aos micros fatores, há uma multiplicidade de razões, das quais abordarei as que julgo mais relevantes.
A invasão da Ucrânia pela Rússia que resultou no conflito armado teve como consequências o esfriamento das relações comerciais entre países europeus e a Rússia, implicando em enorme sobra de estoque de diesel, no segundo momento oferecido ao Brasil com desconto de trinta centavos por barril e com boa solução logística, todavia a decisão brasileira atropelou interesses europeus, com a reação da OTAN agora no início de julho, inclusive concluindo que as compras brasileiras ajudam a financiar a máquina de guerra de Putin e dos americanos que perderam o item mais relevante da balança comercial, gerando um redução do resultado do comércio bilateral, ainda mantendo resultados pró EUA, porém mais modestos.
Donald Trump aprendeu, ainda na eleição anterior, o poder das redes sociais e seus algoritmos como eficiente instrumento de interferência na opinião pública, como se verificou na histórica ação russa de interação com cidadãos americanos, via instrumentos digitais, algo que brasileiros conhecem em profundidade com a concentração do debate político no digital e força absurda das redes de informações unilaterais na formação de opinião, algo que começou nas milícias digitais petistas, do início do século, e se aprofundou com o gabinete do ódio, batizado e comandado por Carlos Bolsonaro.
Quando Alexandre de Moraes busca a regulação das bigtechs, ação que ocorreu em outros países sem maiores sobressaltos, mexe em um vespeiro que, para além da disputa política interna, ameaça um instrumento atualmente muito mais próximo do domínio da direita mundial, pela proximidade de Trump com os patrões das bigs.
Some-se a isto a real possibilidade do pix se transformar na moeda do futuro, não apenas ameaçando as grandes empresas americanas do setor, com enormes prejuízos, mas abrindo a possibilidade de descentralizar as relações cambiais entre as nações porque, em algum momento próximo, a invenção brasileira vai atravessar fronteiras.
Respeitando a tua paciência, por me acompanhar até aqui, afirmo não desconhecer as razões da política nacional, a possível interferência dos interesses da direita nacional nos gabinetes de alto escalão americano, acentuando as taxações e conferindo um caráter político ao debate que existe, precisa ser considerado, mas não é razão única ou mais relevante na escalada de Donald Trump.
Preocupado com a fúria do Tio Sam, admitindo que em algum momento o diálogo vai amenizar o conflito, inclusive pela intermediação múltipla acionada, voltarei ao tema na parte mais infeccionada da ferida que marca as relações atuais entre os dois países.
COMENTÁRIOS