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Maringá,16/07/2025

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DNA de egípcio que viveu há 4.500 anos revela ancestralidade

revista Nature
DNA de egípcio que viveu há 4.500 anos revela ancestralidade Imagens: Divulgação/Liverpool John Moores University

Dente e ossos de um idoso que viveu na época das primeiras pirâmides, entre 4.500 a 4.800 anos atrás, levaram ao primeiro sequenciamento completo de um genoma do Egito antigo, revelando uma surpreendente composição de sua ancestralidade.
A revelação foi feita por pesquisadores da Liverpool John Moores University e do The Francis Crick Institute, ambos no Reino Unido, e publicada na renomada revista Nature.
O time de pesquisadores extraiu o DNA do dente de um homem que viveu em Nuwayrat, um vilarejo 265 km ao sul do Cairo. Seus restos mortais haviam sido doados pelo Serviço de Antiguidades do Egito à Universidade de Liverpool no início do século 20 e, desde então, eles ficavam no museu da cidade.
Apesar de marcadores em seus restos mortais sugerirem uma vida de trabalhos pesados, possivelmente como oleiro, ele havia sido enterrado em um recipiente de cerâmica elaborado. É possível que ele fosse uma pessoa de status, embora não pertencesse à elite. Seu túmulo ficava encrustado em uma colina da cidade.
Este tipo de enterro de classes mais altas não era esperado para um oleiro, que não receberia este tratamento normalmente. Talvez ele fosse excepcionalmente talentoso ou bem-sucedido para avançar em sua posição social, disse Joel Irish, professor da Liverpool John Moores University responsável pela extração do DNA.
O egípcio morreu entre dois pontos da história de seu povo: o Período Dinástico Arcaico e o Reino Antigo. Nesta época, havia conexões culturais e comerciais com o Crescente Fértil, uma área do Oriente Médio que inclui os territórios pertencentes hoje ao Iraque, Irã, Jordânia, Palestina, Israel, Síria, Líbano e Turquia.
Até então, pesquisadores acreditavam nesta ligação entre os povos da região por causa de evidências arqueológicas que apontavam para o comércio de objetos e a troca cultural entre sistemas de escrita. Não havia, até hoje, evidência genética de laços entre eles, já que o clima quente impedia a preservação do DNA e a mumificação de indivíduos também colabora para a destruição do material.
No entanto, o primeiro sequenciamento genético de um egípcio deste período revelou uma miscigenação —esta é a primeira evidência antropológica de migração de povos do Oriente Médio para o império que se formava na região.
Seu código genético tem 80% de sua origem no norte da África, onde o Egito está localizado, e os outros 20% teriam raízes em povos da Mesopotâmia, o atual Iraque.
Esta conclusão pode ser alcançada por meio da comparação da sequência genética do egípcio com aquela dos primeiros agricultores do Neolítico no norte da África, há 6.000 anos. Já o restante do DNA também tem semelhanças com o dos sumérios, embora ainda não esteja claro se é uma ligação genética direta entre eles e os antigos egípcios, como artefatos antigos sugerem, ou se o homem teria origens em outra população mesopotâmia que ainda não foi sequenciada.

Recipiente de cerâmica em que o egípcio foi encontrado
Corpo tinha marcas de sua vida, mesmo após mais de quatro milênios
O oleiro teria crescido no Egito, apontaram sinais ligados à dieta e ao ambiente em seus dentes. Ou seja, foram seus ancestrais que teriam migrado para a África e não ele mesmo.
Seus ossos ainda tinham marcas de músculos utilizados para ficar sentado em superfícies duras por longos períodos com os braços fazendo repetitivos movimentos de vai-e-volta, o que sugeriu aos estudiosos a sua profissão. Evidências de artrite e osteoporose sugeriram que ele teria por volta de 60 anos. Mais pistas de seus restos mortais e de seu túmulo levaram ao sexo, altura e estilo de vida.
Este indivíduo passou por uma jornada extraordinária. Ele viveu e morreu durante um período crítico de mudanças no Antigo Egito, seu esqueleto foi escavado em 1902 e doado ao Museu de Liverpool, onde ele sobreviveu aos bombardeios durante a Blitz [na Segunda Guerra] que destruíram a maior parte dos restos mortais em sua coleção. Nós agora fomos capazes de contar parte da história deste indivíduo, descobrindo que parte de sua ancestralidade veio do Crescente Fértil, destacando uma miscigenação entre grupos desta época, disse Linus Girland Flink, coautor da pesquisa e pesquisador visitante da Liverpool John Moores University.
Cientistas ressaltam que apenas um genoma não é o suficiente para concluir qual era a composição e as origens da população do Egito Antigo.
É preciso estudar o DNA de mais restos mortais da região —e a esperança é que eles possam também ajudar a esclarecer quando os fluxos migratórios do Oriente Médio para o norte da África (e as miscigenações subsequentes) teriam começado.
Diversos laboratórios já tentaram extrair DNA de antigos restos mortais de egípcios desde 1985. Mas os resultados foram limitados ou contaminados por DNA moderno, como no caso do trabalho do geneticista Svante Pääbo, vencedor do Nobel em 2022. Apesar das dificuldades de achar material genético preservado nas múmias, os cientistas britânicos agora querem tentar aplicar tecnologia moderna a elas.




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