Andreza Matais
Nossa incapacidade de parar um pouco

Segundos depois de anunciada a morte do Papa Francisco, as notícias já traziam os nomes cotados para substituí-lo. Não há mais tempo para o luto, para refletir sobre suas lições. Os textos sobre sua morte vêm acompanhados de informações sobre sua sucessão. O que nos deu esse senso de urgência? Os novos tempos?
A necessidade de nem pensar mais?
A pressa de resolver um "problema" para podermos dizer "próximo assunto" e seguirmos adiante? É assim nos velórios das nossas famílias.
Passado o choque inicial, quando chega a hora de velar, esquece-se rapidamente o morto, e as famílias — que muitas vezes não se veem há anos — colocam os assuntos em dia: "Olha como fulano está acabado!", "Quem vai pagar o enterro?" "E os bens (quando há), quando vamos sentar para resolver?"
A vida precisa seguir em frente, mas...tão rápido assim?. Quando foi que perdemos a capacidade de parar, de chorar? Quando uma pessoa do nosso núcleo está doente, o que falamos? "Sara logo!"
Como se o tempo da cura dependesse do doente. Por que não dizemos que a cura virá com o tempo, com paciência, que vai dar tudo certo? Por que ligamos o piloto automático?
Dia desses almocei com um amigo. Ele disse que queria ouvir minha história. Respondi desconfiada: - Sério? Está falando isso por educação? Ele insistiu: - Eu perguntei, não?
Não estamos mais acostumados com a escuta atenta. Com sair para almoçar sem olhar mais para o celular do que para o interlocutor. No feed das redes sociais, eu encontrei um Papa Francisco que me fazia parar de rolar a tela.
O Vaticano, na sua era, aprendeu que era possível usar o Instagram para capturar corações. É desses momentos de pausa nos meus dias que quero refletir hoje.
Numa das inúmeras mensagens do Papa, o valor da vida — e do que fazemos com ela — encontrei a receita. "A velocidade excessiva pulveriza a vida, não a torna mais intensa. A sabedoria nos pede para perder tempo."
Andreza Matais é Colunista do UOL
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