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Maringá,04/09/2025

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O cinema encara os resultados de 2025 e se pergunta: e agora?

Renan Martins Frade - Colunista de Splash
O cinema encara os resultados de 2025 e se pergunta: e agora? Comscore/Divulgação

Setembro, em Hollywood, é sinônimo de virada: o verão no hemisfério norte chega ao fim e junto dele a temporada de grandes lançamentos, os chamados blockbusters. Neste ano, a expectativa era encerrar o período com festa, mas o saldo é de frustração. Ainda assim, há uma luz no fim do túnel —e ela vem do público mais jovem.
Segundo o portal Deadline, o mercado norte-americano arrecadou US$ 3,67 bilhões (R$ 20 bi) durante o período, quase o mesmo que o ano passado. Contudo, ficou um sentimento de derrota: a consultoria Gower Street havia previsto um crescimento de 14%, alcançando US$ 4,2 bilhões (R$ 23 bi) —um marco equivalente com o que era registrado antes da pandemia. Não deu.
E ainda que tudo isso represente apenas um país —os Estados Unidos—, o seu saldo impacta o resto do mundo, incluindo o que vemos na telona aqui no Brasil.
Muitos fatores contribuíram para o resultado.
O primeiro deles: os estúdios, em meio às suas confusões internas, tiveram menos lançamentos "wide" —aqueles que estreiam em muitas salas ao mesmo tempo. Caiu de 51 para 45 longas-metragens. A primeira relação: menos produto na prateleira, menos arrecadação. Só que não é tão simples.
Em 2024, tivemos dois mega-sucessos: "Divertidamente 2" e "Deadpool & Wolverine", ambos da Disney, ultrapassando a marca dos US$ 600 milhões (R$ 3,2 bilhões) de bilheteria nos EUA. Neste ano, o melhor desempenho ficou com "Lilo & Stich", do mesmo estúdio, com US$ 423 milhões (R$ 2,3 bilhões).
Por outro lado, 2025 acumula decepções, com produções como "Bailarina" (do universo John Wick), "Karatê Kid: Lendas", "Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda!" e "Elio" (da Pixar) falhando.
Um caso chama atenção: a Marvel Studios, que saiu de US$ 604 milhões (R$ 3,2 bilhões) em uma única produção para um verão em que duas juntas ("Thunderboltts*" e "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos") não chegaram em US$ 460 milhões (R$ 2,5 bilhões).
Apenas essa diferença, sozinha, faria o mercado como um todo alcançar —com folga— a previsão da Gower.
Seja como for, nesse ritmo, o cinema ainda está longe dos números pré-pandemia. Será que um dia voltaremos a eles?
Nem todas as notícias são ruins
Os erros ensinam mais do que os acertos —e os dados deste último verão entregam, sim, bons prognósticos para o futuro.
Diferente de outros anos, o mercado não ficou concentrado em poucos sucessos: a bilheteria se distribuiu por diversos títulos. Foram 11 os títulos que passaram da barreira dos US$ 100 milhões (R$ 545 milhões) na última temporada, contra nove em 2024.
Tivemos boas surpresas, como "F1: O Filme" (a maior bilheteria da história da Apple), "Pecadores" e "A Hora do Mal".
A Warner Bros., inclusive, se saiu bem —considerando como o estúdio começou a temporada. Com muitas mudanças internas e os principais executivos da divisão de cinemas sob o risco de perderem o emprego, a WB entregou "Superman", que, apesar de não ter números estratosféricos, obteve uma recepção positiva e uma arrecadação de US$ 351 milhões nos EUA (R$ 1,9 bilhões), US$ 611 milhões (R$ 3,3 bilhões) no mundo todo —o suficiente para garantir o recomeço da DC na telona.
A casa dos Irmãos Warner também pode ser um caso de sucesso para quem quiser se dar bem em 2026, já que combinou um calendário com datas inteligentes e um mix diverso de títulos (com ação, terror, super-heróis e muito MAIS
Outro crescimento digno de nota foi o da A24. Queridinha dos cults, a distribuidora obteve uma bilheteria 160% maior, surfando em títulos fora do "pacote franquia".
Salas especiais possuem o seu papel. O balanço do segundo trimestre de 2025 da Imax Corporation, companhia responsável por aquelas grandes telas de cinema, informa um crescimento de 41% na bilheteria, muito acima do restante do mercado. Fica claro que o espectador pensa que, se é para sair de casa e gastar, que seja para ter a melhor experiência possível.
O gênero das produções também tem seu peso. Longas com um caráter mais coletivo, como os de terror, têm crescido.
Sem falar que bons resultados passam pelo velho marketing, ainda que adaptado aos tempos modernos. Cinema é sobre urgência e fenômeno cultural, já que os filmes ficam ainda menos tempo em cartaz nesta era do streaming. Quando a campanha de divulgação é bem-sucedida em criar estes sentimentos —e acompanhada, claro, de um bom produto—, o sucesso vem.
Nesse sentido, 2026 traz novas esperanças.
O ano terá grandes estreias, como "Homem-Aranha: Um Novo Dia", "Minions 3", "Toy Story 5", uma nova versão de He-Man e "Odisseia", de Christopher Nolan (o mesmo diretor de "Oppenheimer"). Todos eles, por um motivo ou outro, já chegam cercados de expectativa.
Como vem a nova geração?
Uma conclusão simples sobre a derrapada do cinema é que isso ocorre porque os mais jovens não apreciam mais a sétima arte. Contudo, não é bem assim.
Um estudo da National Research Group (NGR) indica que 59% da Geração Alpha (nascidos a partir de 2010) prefere assistir a filmes na telona, contra apenas 24% que preferem ver em casa. O dado revela que as crianças gostam da farra de passear, aproveitando uma nova experiência ao lado dos seus pais e responsáveis, do que a rotina das telas caseiras.
O desafio é criar (ou recriar) franquias que reverberam com os jovens e que tenham esse verniz de experiência cinematográfica —e, claro, convencer os adultos a tirarem as crianças do lar.
Se isso ocorrer, Hollywood tem um potencial enorme nas mãos: o de formar uma geração que valoriza a experiência real, física, já que estão saturados da virtualidade da internet.
E no Brasil?
No nosso país, os desafios possuem outras dimensões —incluindo maiores barreiras sócio-econômicas. Para começar, muitos brasileiros não têm acesso à tela grande.
De acordo com dados da Ancine, divulgados no começo do ano, o nosso país tem 3.509 salas de cinema. É um recorde histórico, que —em uma conta simples— representa 60,8 mil brasileiros para cada sala.
Enquanto isso, os Estados Unidos possuem 39.007 telas, o que dá 8,9 mil norte-americanos para cada uma. Isso sem considerar a distribuição geográfica, poder aquisitivo, etc.
O mercado se movimenta para preencher essas lacunas. Uma delas é a Semana do Cinema, que começou em 28 de agosto e foi encerrada ontem, 3 de setembro, junto com o fim da temporada de blockbusters.
Organizada pela Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Fennec) e com apoio da Associação Brasileira das Empresas Cinematográficas (Abraplex), o evento traz ingressos por R$ 10 —com exceção apenas nas salas especiais, que também tiveram descontos.
Conforme a Comscore, 2,26 milhões de pessoas compareceram nos exibidores no fim de semana da ação. O resultado veio após o pior fim de semana de 2025, com apenas 766 mil ingressos vendidos.
Contudo, um comentário recorrente nas redes sociais durante a divulgação era: "Queria ir, mas não tem cinema na minha cidade".
Como vemos, o futuro da sétima arte depende de escolhas mais inteligentes: dos estúdios retomarem certo apetite ao risco, de tornar o acesso mais fácil e, acima de tudo, de convencer pais a levarem seus filhos. O que vale agora não é apenas correr atrás de um bilhão de dólares, mas garantir retorno saudável, relevância cultural e histórias que gerem conversa.
Quem souber equilibrar essas peças vai ditar os rumos da próxima fase —ou do próximo filme— de Hollywood.




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