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Maringá,06/09/2025

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Tratamento desenvolvido no SUS vai para Portugal

Gabriela Maraccini/SUS
Tratamento desenvolvido no SUS vai para Portugal Manusapon Kasosod/Getty Images

Uma técnica desenvolvida no Brasil pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, do Sistema Único de Saúde (SUS), para tratar uma doença cardíaca, foi adotada pelo Hospital Santa Marta, em Lisboa. 
O intercâmbio aconteceu em julho, após o procedimento demonstrar menor risco aos pacientes e menor tempo de internação no tratamento da miocardiopatia hipertrófica.
Os cardiologistas brasileiros Bruno Valdigem e A. Tito Paladino Filho estiveram na capital portuguesa na segunda quinzena de julho para ensinar os detalhes técnicos e teóricos da ablação septal por radiofrequência, técnica inovadora desenvolvida no SUS, além de acompanhar a realização do procedimento pela primeira vez em Portugal.
A miocardiopatia hipertrófica é uma doença cardíaca em que as paredes dos ventrículos (câmeras inferiores do coração) se tornam espessas e rígidas, dificultando a passagem de sangue. A condição tem origem genética, que pode surgir de forma espontânea ou hereditária.
Entre os sintomas estão falta de ar, batimentos irregulares do coração (palpitações), dor torácica e, em alguns casos, desmaios.
"Da mesma forma em que um halterofilista faz musculação para crescer o músculo e ficar mais forte, o coração não para de fazer atividade.
Ele continuamente está contraindo para empurrar o sangue para frente. Mas, em algumas pessoas, esse músculo aumenta muito de tamanho sem o preparo dos vasos sanguíneos que levam oxigênio para ele. Então, ele cresce de forma desorganizada e gera cicatrizes que podem causar arritmia", explica Bruno Valdigem em entrevista.
Tratamento padrão x tratamento inédito do SUS
Geralmente, a miocardiopatia hipertrófica é tratada com medicamentos como betabloqueadores, que reduzem a força de contração do músculo cardíaco e melhoram o fluxo sanguíneo no coração. Outra opção mais invasiva é a miectomia, uma cirurgia que corta um pedaço do músculo do coração para aumentar o fluxo de sangue que sai do músculo.
No entanto, como todo procedimento invasivo, pode trazer riscos à saúde quando não realizado em centro especializado.
Uma alternativa menos invasiva é a ablação septal alcoólica, também chamada de alcoolização, usada quando a intervenção cirúrgica é contraindicada.
Nela, é feito um cateterismo com infusão de álcool direto no músculo cardíaco, provocando um infarto químico controlado. "Esse infarto mata parte desse músculo que está aumentado de tamanho para aliviar sua obstrução. Mas há complicações. Uma a cada cinco pessoas não é candidata [à alcoolização], porque não tem uma coronária que leva até o local que precisa ser cauterizado, ou então porque, depois da cauterização, é preciso usar um marca-passo também", afirma Valdigem.
Devido a essas limitações, os médicos brasileiros, então, estudaram um conjunto de trabalhos de um grupo de pesquisadores alemães sobre o uso de cateteres de ablação por radiofrequência, que já são usados para tratar arritmias.
Os especialistas queriam entender se era possível simular o efeito do álcool de forma mais controlada. A partir disso, a técnica foi adaptada para o uso no Brasil.
"Cateter é todo cabo que consegue entrar em um vaso. Nós vamos até o coração com um tipo diferente de cateter, procura o local onde o coração está aumentado [guiado por ecocardiograma].
Esse cateter de radiofrequência libera calor e cauteriza o músculo de forma parecida com o que o álcool faz quimicamente. Mas é mais focado. Você consegue escolher o local que quer cauterizar, assim como a intensidade dessa cauterização e, de certa forma, aproximar a quantidade de músculo que quer causar dano tecidual", explica Valdigem.
Em outras palavras: a ablação septal por radiofrequência tem o mesmo propósito da alcoolização, mas garante maior precisão e controle no procedimento. "Começamos a usar essa técnica aqui no Brasil em 2017, no Dante Pazzanese, por necessidade. Tínhamos muitos pacientes precisando e começamos a extrapolar um protocolo de pesquisa para ver o quanto que essa técnica, com materiais que tínhamos disponíveis no SUS, poderia ajudar os nossos pacientes. O Dante começou a usá-la de forma bem frequente e ficamos muito felizes com isso", afirma.
Apesar de ser realizada com frequência, a técnica da ablação septal por radiofrequência ainda é considerada um protocolo de pesquisa.
No entanto, já está descrita na última diretriz brasileira para tratamento da cardiomiopatia hipertrófica. Em artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, o procedimento demonstrou ser seguro e eficaz, podendo ser considerado uma opção para o tratamento da condição.
"Para ser indicado a esse protocolo, o paciente precisa ter uma limitação importante ao realizar pequenos esforços [se cansar com facilidade, por exemplo]. Em quase todos os que realizaram o procedimento, ao final de um ano, eles conseguiram melhorar sua capacidade física", diz Valdigem. "Isso não quer dizer que ele vai parar de usar medicações. Alguns pacientes até diminuíram a dose, mas a ideia é fazer o paciente voltar para o mais saudável que ele conseguir nesse contexto", completa.
Intercâmbio com Portugal
O Hospital Santa Marta, em Lisboa, é referência no tratamento da miocardiopatia hipertrófica, mas, até então, contava apenas com a opção da ablação septal alcoólica para tratamento da condição em pacientes não elegíveis à cirurgia. Os cardiologistas portugueses, Bruno Valente e Antônio Fiarresga, viajaram até o Brasil para conhecer o Instituto Dante Pazzanesse e entender de perto o trabalho realizado pelos brasileiros.
Em seguida, Valdigem e Tito viajaram para Portugal para ensinar o método utilizado no SUS à equipe do Hospital Santa Marta, que selecionou pacientes que poderiam se beneficiar da técnica.
O procedimento foi realizado em três pacientes portugueses em conjunto com os médicos brasileiros.
"A troca foi boa em dois aspectos: primeiro, que, quando eles vieram para o Brasil, eles deram aula sobre algumas técnicas que eles realizam em Portugal e que não fazemos no SUS ainda", relata Valdigem. "E nós conseguimos ensinar o que fazemos para que pudessem montar um sistema de atendimento lá em Portugal que possa colocar essa técnica como complementar ao que eles já fazem", afirma.
O próximo passo dos especialistas é continuar estudando e realizando a técnica, com possibilidade de expandir as trocas de conhecimentos em uma rede multinacional de médicos, de forma que ela possa ser levada para outras regiões do mundo.






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