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Maringá,04/07/2025

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Walber Guimarães Junior

As galinhas que ciscam pra dentro ...

Reprodução
As galinhas que ciscam pra dentro ... As galinhas que ciscam pra dentro ...

Entender o Brasil contemporâneo não é tarefa fácil para ninguém, independente da formação ou nível de informação do analista, mas talvez a metáfora que melhor traduza a cena política nacional sejam as galinhas que, até por instinto, ciscam pra dentro ...
Ocorre que, para as galinhas, isto é um comportamento fisiológico, necessário para facilitar a digestão, todavia para a elite brasileira, acomodada em todos os poderes, é uma prática rotineira que permite a extensão de seus espaços, gerando ainda mais mecanismos para a perpetuar o status quo. Ciscar pra dentro é uma tradição de um país onde levar vantagem continua sendo a regra, mas permitida apenas para uma parte da população.
Basta que um observador atento perca alguns minutos checando a lista de privilégios que cada poder se concede em um país, onde a miséria é companhia diária de 60 milhões de pessoas.
Talvez seja muito difícil se manter no topo do futebol, mesmo sendo alegadamente o melhor neste esporte, mas, no top ten dos países mais injustos do mundo, temos cadeira cativa, consolidada pelo histórico da pirâmide de rendas no Brasil, uma das mais pontiagudas do planeta.
Faremos, abaixo, um rápido passeio por instituições nacionais para configurar uma prática corporativa que sistematicamente é acionada para garantir privilégios ao andar de cima, sempre com a conta “socializada”, via impostos, para o trabalhador brasileiro.
Iniciando pelo Judiciário, a notícia mais recente aponta para 10,3 bilhões de recursos serão gastos com supersalários em 2025, sempre em referência ao teto constitucional que deveria ser controlado ironicamente pelos beneficiários. Fantasiados de penduricalhos criativos e afrontosos, a população paga mordomias, viagens, cirurgias estéticas, auxílio paletó ou moradia, sempre como formas legais de permitir que se o avanço imoral sobre recursos públicos ganhe contornos legais.
Prefiro não comentar o Gilmar Palooza, nome irônico que batiza um encontro de estudos de autoridades em Lisboa, incluindo ministros, deputados, senadores e afins, recheado de diárias e patrocínios antiéticos. Os todo poderosos do andar de cima tudo podem ...
Se o olhar se desvia para o Executivo, sem deixar se envolver pela crítica gratuita que alimenta a polaridade, a lista infindável de aspones e secrepones, afinal os áulicos precisam ser protegidos com o reconhecimento de sua dedicação, as centenas de viagens em aviões da FAB, regalia injustificável até para o primeiro escalão, na maior parte das vezes, os custos de viagens, as comitivas imensas, com a cumplicidade de todos que já ocuparam o Alvorada, porque se lambuzar no mel do poder é esporte nacional, tudo contribui para que não sobre recursos para o fundamental.
E, sempre que possível, melhor puxar mais farinha para o seu pirão ...
Talvez fosse esta a verdadeira missão do Legislativo, mas acho que eles não concordam com isto e precisam continuar chantageando o chefe de plantão para garantir suas emendas, pix ou secretas, para garantir recursos e apoios, conquistados com dinheiro público, para pavimentar suas reeleições. 
Provavelmente esteja na hora de você revisitar o histórico parlamentar daquele que o representa em Brasília, porque para muitos brasileiros, seu deputado achou razoável destinar dinheiro das emendas para a Fiat, a Chevrolet e até para o condomínio Bervely Hills (nem pense que é um habitacional do “minha casa, minha vida”).
Acredite! Abandone por instantes a redoma que o algoritmo das redes lhe impõe e busque fontes saudáveis para verificar a proliferação de escândalos com nosso dinheiro através das emendas e nem ouse apontar o dedo na direção oposta. Bolsonaro e Lula, tigrões no discurso contra os excessos, viraram tchutchucas contra o centrão, dono do poder legislativo no Brasil.
Sei que é muito mais cômodo assumir o sentimento de pertencimento ao seu grupo e continuar repetindo a velha ladainha de sinal contrário porque investigar, buscar entender as razões da quase catástrofe brasileira não é muito mais que apontar o dedo na direção oposta.
Quantos de nós não estão no grupo dos privilegiados com isenções tributárias que arrotam de maneira leviana que o problema é o dinheiro do Bolsa Família?  
Ainda no início deste ano, o pobre que ganhava pouco mais que dois salários-mínimos pagava imposto de renda! Já no andar de cima as taxas, depois das manobras evasivas, são escandalosamente abaixo da carga tributária média, simplesmente porque o país programado para ser dividido em capitânias hereditárias, evoluiu pouco e, felizmente, se a mobilidade social permitiu milhares de ingressos no andar de cima, a metade da riqueza do país continua na mão de menos de 2% dos brasileiros e que apenas no exíguo extrato de 10% da população, se concentram a quase totalidade das benesses, isenções, indulgências e mordomias apenas porque nesta pequena fatia estão 99,99% de todos os cargos relevantes no executivo, legislativo, judiciário e mesmo da iniciativa privada.
Sei que seria leviano afirmar que a crise não atinge o andar de cima da população, mas a matemática e a lógica provam que consumo baixo e juros altos não os afetam porque sempre terão um arsenal de instrumentos para se defenderem destes fatores. Todavia estes mesmos fatores nos autorizam a afirmar que tentar um mínimo de justiça social, com o amortecimento da carga tributária para a população de baixa renda é muito improvável porque a renúncia fiscal na base exigiria a contrapartida no topo.
Um brasileiro isento consegue entender que talvez nem se precise de um Estado mínimo, mas de um estado menor e mais eficiente assim como percebe que se valer de mecanismos para proteger quem não tem emprego ou renda é dever do Estado, logo a conjunção de metas da direita e da esquerda não precisam ser excludentes, mas balanceadas de acordo com a realidade econômica da nação.
Poderia ser tudo muito simples, mas o velho hábito da nossa elite lhes é muito mais favorável e como galinhas gordas preferem seguir ciscando para dentro.



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