Por que se sentir só faz tão mal à saúde quanto fumar?

Em novembro de 2023, a OMS (Organização Mundial da Saúde) lançou um alerta importante ao criar a Comissão de Conexão Social.
O objetivo é enfrentar, nos próximos anos, o que a instituição definiu como uma "epidemia global de solidão".
O tema, muitas vezes negligenciado, ganhou destaque como uma questão de saúde pública com implicações sérias e abrangentes.
Estima-se que 1 em cada 4 idosos esteja socialmente isolado e que entre 5% e 15% dos adolescentes sofram com a falta de vínculos sociais. Embora frequentemente associada a países ricos e ao envelhecimento, a solidão atinge pessoas de todas as idades, culturas e classes sociais.
Efeitos no corpo e na mente
A OMS afirma que os efeitos da solidão sobre a saúde são comparáveis aos de fumar 15 cigarros por dia e equivalentes ao impacto de fatores como obesidade, consumo excessivo de álcool e sedentarismo.
A solidão prolongada vai muito além de um sentimento passageiro. O isolamento está associado a um aumento de até 50% no risco de demência, 30% mais risco de sofrer um AVC ou ataque cardíaco, e maior risco de depressão, ansiedade e suicídio.
A ausência de conexões sociais também pode agravar problemas cardíacos, distúrbios do sono, inflamações crônicas e enfraquecer o sistema imunológico.
O ser humano é social por natureza e precisa do convívio para se desenvolver emocionalmente, cognitivamente e até fisicamente. Ficar sozinho ocasionalmente pode ser positivo, especialmente para reflexão ou produtividade, mas o isolamento crônico pode intensificar traços como timidez extrema, procrastinação e medo de interações sociais. Em pessoas com transtornos como depressão, ansiedade social, esquizofrenia ou alguns tipos de autismo, a solidão pode ser ainda mais profunda e complexa.
O excesso de tempo sozinho pode prejudicar a comunicação, a coragem e a motivação para agir, além de reforçar sentimentos de exclusão e desamparo.
Como dosar e se proteger da solidão
Lidar com a solidão exige uma abordagem multifatorial. Buscar momentos de introspecção e autoconhecimento, por meio de retiros, hábitos diários de reflexão ou pausas estratégicas, pode ser saudável, mas isso precisa estar equilibrado com a vida em sociedade.
O desafio é encontrar esse equilíbrio e reconhecer quando o isolamento deixou de ser escolha para se tornar sofrimento.
A conexão social precisa ser cultivada desde a infância, com o incentivo de pais e professores para que as crianças desenvolvam empatia, convivam com diferentes realidades e aprendam a valorizar os laços afetivos.
Já na vida adulta, programas de mentoria, psicoterapia, grupos de apoio e, em alguns casos, medicamentos, podem ajudar a melhorar as habilidades de socialização e enfrentar os obstáculos emocionais. A OMS reforça que o combate à solidão deve ser prioridade de políticas públicas, com estratégias que envolvam educação, saúde, urbanismo e cultura. Porque, embora estejamos mais conectados do que nunca pelas redes sociais, o verdadeiro antídoto contra a solidão ainda é o encontro humano real, o afeto e a presença genuína.
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