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Maringá,19/07/2025

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Walber Guimarães Junior

Tornozeleira com grife americana?

Reprodução
Tornozeleira com grife americana? Tornozeleira com grife americana?

"Make America Great Again" foi uma excelente sacada de marketing, um slogan realmente convincente que seduziu americanos e traduziu muito bem os anseios do então candidato Donald Trump, todavia nem todos previam que o “great again” incluía atropelar aliados históricos e chutar o balde de instituições com DNA americano, a OMC por exemplo, menos ainda que tais propósitos pudessem oferecer carona para políticos sul-americanos.
Estamos diante de uma situação inédita e extremamente grave, uma crise diplomática com fortes implicações econômicas e políticas, recheada de narrativas convenientes que giram ao sabor das conveniências de nossos líderes e, apenas se for possível, trabalharão pela necessária revisão do tarifaço de Donald Trump.
Ainda que convertidos e apaixonados sejam capazes de enumerar milhares de razões para isentar seu chefe ideológico e jogar o oponente nas chamas do inferno, uma visão isenta percebe, com facilidade, que, cada um a seu modo, filtra leituras que permitam usar a crise a favor de seus interesses e, se der para conciliar, negociar algo mais equilibrado nas relações comerciais entre americanos e brasileiros.
O presidente Lula, desde o início do mandato, tem com suas ações e relações internacionais trafegado na contramão dos interesses americanos, com diversas situações em que chutou a canela do Tio Sam, talvez sem o histórico das salas de aula, onde se aprendia logo na primeira semana a não perturbar o grandão do fundo da sala.
Os pequenos aprendiam cedo que mexer com grandões rendia belos cascudos doloridos e na sala de aula das nações, Trump é o grandão de cabelo laranja que adora uma encrenca.
Todavia, se esta encrenca pode gerar muitos prejuízos para nossa economia e para o bolso do cidadão comum  brasileiro, também permitiu que a pauta nacional se desligasse dos temas INSS e gestão econômica que se somavam a tantas outras para garantir um refresco para o governo, além de lhe permitir um discurso de muito apelo popular, terreno onde Lula é maestro, com a solidariedade, já comprovada por pesquisas, que apontam, desde já, uma reversão da tendência de queda da popularidade de Lula.   
Resumindo; Donald Trump se converteu involuntariamente em cabo eleitoral de Lula, lhe concedendo discurso eficiente e, principalmente, atenuando a pauta trágica que incomodava a esquerda.
A contestação ao pix brasileiro que a longo prazo compromete as empresas de crédito americana é só mais um ingrediente da batalha político-econômica.
Por outro lado, toda esta questão, é na prática um tratamento inédito na relação entre os países.
Não tem ingênuo que não saiba que os americanos, com os braços militares e financeiros, já interferiu em todas nações sul-americanas, trocando governos que não fossem confiáveis, a seu critério, mas, desta vez, Trump atropela todos os manuais de diplomacia e impõe uma interferência no Judiciário brasileiro exigindo a anistia e arquivamento das investigações contra a tentativa de golpe, sem nenhuma preocupação com os inocentes úteis vítimas da condenação, mas focado apenas em seu aliado ideológico Jair Bolsonaro.
Estamos diante de uma nova guerra de narrativas, onde argumentos bem razoáveis são arrolados por ambas as partes, mas é inquestionável que se enxerga uma chantagem americana, sustentada por argumentos oferecidos por Eduardo Bolsonaro, onde se exige a liberdade de Jair Bolsonaro para reduzir as tarifas comerciais do Brasil. Este é o fato que abre espaço para uma intensa turbulência.
Internamente, teremos nos próximos anos um longo debate sobre os excessos do STF e a conduta do principal ministro Alexandre de Moraes. Pessoalmente, respeito o seu trabalho na defesa da nossa democracia, só sustentada por sua reação, mas também observo excesso de ativismo em suas decisões, contaminadas pelo ódio indisfarçável pelo ex-presidente.
A provável condenação de Jair Bolsonaro é consequência de uma longa investigação onde o crime mínimo foi a omissão contra conversas abertas e o desenho detalhado para ações criminosas contra autoridades e caminhos em direção à mudança do resultado das urnas, todavia, um ex-presidente não vai fugir pelas fronteiras, ainda que possa se deslocar para uma embaixada em busca de asilo, mas nem isto torna palatável o uso de tornozeleira eletrônica, provavelmente muito mais focada em afirmar a independência do poder e reagir à interferência abusiva de Trump nas questões internas.
O tarifaço de Trump pode virar tsunami na política brasileira, mesmo causando efeitos, por enquanto inversos aos desejados.
Lula ganhou pauta e deve subir nas pesquisas sem oferecer uma única resposta às questões emergenciais do Brasil e a ação absurda de brasileiros a favor da penalização do país com tarifas, resulta em tornozeleira em Bolsonaro que muito mais parece uma resposta externa do que um ato jurídico.
Nada indica redução da escalada de conflitos entre os países, os canais de diálogo são limitados, os prazos curtos e ambos os lados possuem um razoável arsenal de medidas que penalizam o lado oposto, onde não se vislumbra vencedores, mas prejuízos, em proporções diferentes para o povo dos dois países.
Triste país condenado a pagar a conta por seus líderes.
Lula só pensa em usar a situação para melhorar suas possibilidades eleitorais e Bolsonaro desconhece prejuízos para a população para usar todas as hipóteses a favor de sua liberdade.
Apesar das cenas de personalismo explícito, a população segue anestesiada atirando pedras no polo oposto sem perceber que somos apenas massa de manobra na luta pelo poder entre dois líderes viciados em cuidar de seus umbigos.
Em algum momento, talvez na próxima geração, a irresponsabilidade do nosso debate político pode colocar nossos netos debatendo sobre a conveniência de ser o quinquagésimo primeiro estado americano ou a trigésima quinta divisão administrativa chinesa.



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